domingo, 17 de maio de 2009

A cromoterapia do dia

Um dos maiores motivos que me fazem preferir o dia à noite são as cores. A noite é de uma cor só. O dia é colorido, e eu gosto de perceber tudo às claras, sem máscaras.
Acho demais o dia amanhecer cinzento. Sei bem que é quase unânime a preferência pela chuva na janela em dia de domingo, mas o cinza vai mais além. Muitos podem pensar que um dia cinza é sem vida. Imagina! O cinza é a cor da sobriedade. Não é à toa que precisamos de mais atenção ao dirigir na chuva, já que, de dia, não temos o luxo da luz artificial que tem a noite.
Vejo sofisticação e seriedade na fumaça que sai dos cigarros dos fumantes. Pouca saúde também. Mas não tão triste quanto a apatia dos jalecos dos enfermeiros, que é diferente do branco limpo e salgado dos aventais dos chefs de cozinha. E da higiene quase séria das camisas dos barbeiros.
Amarelo é a cor do dia; e apesar de eu achar uma cor horrenda em roupas, ele me pega pela poesia que tem. A cor da alegria, do entusiasmo, da frente da casa da minha mãe, das coisas valiosas, do meu enxoval quando neném, do sinal ignorado, da bundinha da abelha... E é a cor do sol, a razão do dia. Mas vocês nunca me verão usando uma calça amarela por livre e espontânea vontade...
Laranja, assim como aqueles cones de sinalização, é irritante. Ácido que chama atenção. Era a cor do uniforme da minha antiga escola. E da criatividade, da vitamina que eu tomo de manhã e do local onde trabalho. Desperta assim como o vermelho. Aliás, o vermelho é forte. Alarma como nos sinais de trânsito, os luminosos que indicam perigo ou saídas de emergência. Revela a masculinidade na fachada do Corpo de Bombeiros daqui da minha cidade. É revolucionário nas camisas dos esquerdistas e apaixonado na minha camiseta dos Beatles; convidativo em lábios e unhas; majestoso no tapete de entrada do cinema; corajoso nos joelhos ralados dos moleques danados.
O azul é para onde se olha para acalmar o passo. Depois de tantas cores, olho para cima e fica tudo bem. Ele refresca e faz pensar. É água. É renovação. A cor das caixas d’aguas, dos fundos de piscinas, daquilo que evapora e limpa e das comidas que não existem (ou não são apetitosas!). Cor do meu banheiro; das canetas BIC, tão companheiras; dos lençóis mais macios; das logomarcas empresariais. Azul também é profundo. É fechado em si; pois, assim como no azul das veias, pouco revela o que guarda.
Passeando pelos cantos, vejo todas essas cores em varais de roupas, vitrines, bandeiras, pipas e a cidade...
E chego em casa. Entro no lugar onde escrevo; tem cor de esperança; é onde me curo de todas as mazelas (físicas ou não); onde olho para a janela e vejo mais dessa tonalidade... É a cor que me inspira, que guarda o cheiro das árvores, o ativismo, o altruísmo e, paradoxalmente, o individual. O meu quarto tem a minha cor. O quarto verde.
Meus dias são coloridos. Por isso vivo de dia e finjo à noite...