Maria
Antônia divertia-se muito no parque. Admirava as crianças com brinquedos caros
que sujavam na areia, invejava os que ostentavam guloseimas de parque nas mãos,
sorria discretamente quando um sorvete caía na areia... Não gostava de brincar
com os outros. Às vezes ficava triste por ser tão pequenina e sentia os olhos
encherem d’água quando os colegas riam de seu tamanho. Ali no parque, ela
observava todos de cima do banquinho. Podia brincar que era a chefe de tudo e
que poderia prever o que acontecia. Como o pipoqueiro que chegava antes do
menino de blusa xadrez. Ou o ônibus, que trazia a velha senhora e a netinha de
cabelos crespos. “Parece uma nuvem”, sempre pensava. Poderia prever a melodia
que saía dos autofalantes. E, principalmente,
prever aquela hora da tarde.
Era
um sorriso gigante quando ouvia aquela moça que adotou como mãe chamar: “Hora
de ir!”. Mal continha o pulular do coração dentro do peito de boneca. Sentia que não ia dar conta da felicidade que
era segurar a mão para a moça altíssima e elegante que sempre a olhava com
ternura. Pensava naquela frase de filmes que não sabia exatamente o que
significava. “Me concede a honra desta dança?”. Sabia que era uma boa frase pra
pensar naquele momento.
O
bracinho curto se esticava “do tamanho do mundo”, enquanto os pés mal tocavam o
chão. E quando tocavam, era tempo de dar o impulso que Maria Antônia aguardava
a tarde inteira, o impulso que a fazia levitar até à cintura da mãe, que a
segurava forte por um tempo no ar, pra depois continuar os passinhos
apressados, entre impulsos que
empurravam o chão e a faziam ir cada vez mais alto.
As
gargalhadas eram fáceis. De vez em quando, ao chegar no alto, olhava pro chão e
sentia-se maior. Tudo era esquecido: os sorrisos de deboche, as limitações, a rejeição...
Maria Antônia podia voar.
E
voava em céu de brigadeiro, entre nuvens de algodão e glacê que um dia comeria
sem restrições. E ainda tinha um caminho de casa inteiro para sonhar...
Maria Antônia era grande.