domingo, 25 de setembro de 2011

O Palhaço.


Ele chegou na mesa do bar com seus óculos muito distintos. Tinha a risada contida, o passo contido, a veia esquerdista nem tão contida, mas distinta também. Ele é o Intelectual. Estavam discutindo alguma coisa muito importante, ele, o Artista, o Crítico e o Bajulador.Todos muito inteligentes (talvez o mais fosse o bajulador, por ser primo próximo da Falsidade), resenhavam sobre chagas sociais. ...
o Intelectual deixou clara e exposta sua opinião político-social-religiosa-moral-sei-lá-o-quê-mais,expondo todos os argumentos plausíveis e necessários para a discussão na mesa do bar cult...
Então surge o Bêbado.Pode ser aquele lá do chapéu-coco, que muitos até chamam de Palhaço. Aquele que na sua "palhaçada", é alvo de risadinhas sarcásticas. Pois eis que, de tanto ouvir chacota e risadinha desbotada de ironia, ele resolve tropeçar naquele monte de argumentos, rolando entre as poças de elouquência de tantos egos juntos, fingido molecamente vários desmaios por entre os intervalos de réplicas e tréplicas, para, finalmente, cair de bunda no chão. Não tendo mais onde se escorar, nem mesmo no desprezo de toda aquela gente tão culta daquele bar tão inteligente,
ele prefere juntar o chapeuzinho e sair cambaleando.
Mas não sem antes, sabiamente, dizer no auge de sua ebriedade : "A intolerância é uma merda."
Foto: Rui Miguel

terça-feira, 19 de julho de 2011

Souza e Das Dores ou “ O medo de amar é o medo de ser livre”

"O sol levantou mais cedo
E quis na nossa casa fechada entrar
Pra ficar"

De todos os medos, o mais ilógico. Chorem rios, beijem-se e sejam loucos, por fim. E vejam o sol levantar mais cedo...

Das Dores ou “Fato consumado”

"Eu quero é viver em paz
Por favor me beija a boca
Que louca, que louca"
Para com isso. Isso dói. Você já está certa, e aí? Custava me explicar o que tinha acontecido? Tinha que ser por aqueles cd’s chatos, cuja (veja bem, estou usando a palavra “cuja”)música nem dá pra assoviar direito? Tinha que ser por aquele monte de palavra sem nexo, escrito em formato de “L”????????? Tinha que ser por aquele filme horroroso, com atores horrorosos, em uma língua horrorosa?? Sinais? Ora, Dores, por favor! Infelizmente você é assim... Eu te convido pra cantar, você quer contar histórias (o que New Orleans tem a ver com a nossa história?)...
E você sempre faz isso. Menospreza, o que é pior que simplificar. Acha-se merecedora do infinito. Mas de um infinito que só existe pra você. Que simplória você é. Posso não querer me aprofundar em tudo, posso ter te dado as costas e ido embora. Mas cá estou, pra viver de minha memória. Das Dores, me deixa em paz. E me beija a boca. Louca.

Souza ou “Cry me a river”

"Now you say you're lonely
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you"


Chora. Você sabe que estou certa. EU falei naquela poesia... no cd do Miles e do Coltraine... no filme do Almodóvar. Você ia saber o que era sangrar. Assim como eu sangrei.Como? Lógico que você não sabe, NE? Eu te dava tantos sinais, Souza... Mas, infelizmente,você é assim. Explico a história do jazz e você me convida pra ir ver o Jorge Vercilo (“ele me faz cantar”)...
Você fez isso com nosso amor. Achou simples lidar com um sentimento dessa infinitude. Não basta delimitar, Souza. Que simplório você é. Chora aí, na minha porta, porque está sozinho. Pois saiba você, por mais clichê que isto seja, que uma lágrima não basta. Eu quero um rio inteiro de lágrimas. Eu chorei um rio por você.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Minha mãe, o carnaval e eu

As coisas mudam totalmente quando ela vem pra casa. Vovó faz lasanha verde (???), vovô pára de fumar cachimbo (“Isso vai matar o senhor”) e a empregada sorri quando brigam comigo.
Deve fazer uns três anos que a gente não tem o “Baile da família” na sede do clube de tênis da cidade. Ela organiza sempre que vem todos os anos. Mas ela foi embora pra mais longe de casa. Fiquei com o quarto maior, mais espaço para meus carrinhos e a sensação de que estou menor ou coisa parecida.
Mas esse ano, não escapamos. Ela está no telefone, dizendo que comprou uma fantasia de palhaço pra mim porque passará finalmente o carnaval aqui. Desligo o telefone, falo um palavrão que aprendi na escola, sou repreendido e me sento na mesa da cozinha. A notícia é dada para vovô e vovó, que começam a cantar uma marchinha. Eu não estou nada satisfeito. Primeiro porque minha orelha dói por causa do puxão. E penso na hora. O baile é um tormento pra mim. Sempre estou ironicamente patético na hora do discurso dela. Não me controlo. Meus primos passam o ano inteiro sacaneando comigo... E este ano será de palhaço... Estou rezando pra Nossa Senhora Protetora dos Meninos que se Fantasiam de Palhaço no Carnaval. Pra isso deve haver uma santa protetora. Tem que haver.
Ela é uma cretina, na verdade. Ela me deixa tão feliz quando a vejo que acabo me esquecendo o quanto não faz sentido uma criança de oito anos vestida de pirata ou marinheiro. Não importa, no fim. Ela me abraça e eu sinto os cabelos com cheiro de jardim cobrirem meu rosto. Aí ela me carrega e tanto faz se eu estou com uma peruca de palhaço.
E começa o baile. Não, não quero dançar, que chato. Vó, fala pro Juninho parar de puxar meu nariz? Não, não sei dançar. Minha peruca coça, vó. Não, tá muito calor, não quero dançar, já disse. Vô, é a terceira vez que o Juninho joga serpentina dentro da minha calça! Não, não quero um sarongue (?). Peraí! Confete na boca nã...
Tio Bené já tomou conta do salão. Juninho engoliu o apito, para a alegria secreta dos presentes.
Meu estômago tá fazendo aquele barulho esquisito. Chegou a hora... Ela, de melindrosa, vai falar aquilo que eu sempre temo. O discurso de despedida. Vamos todos chorar, satisfeita?
Com os punhos e os olhos fechados, eu sou palhaço mais nervoso do mundo. Ela está falando. Acho que é algo sobre união, família ou amor. Não estou nem aí. Só não quero que acabe. Meus olhos estão fotografando e meus ouvidos estão gravando tudo. Não posso esquecer nunca. Ai não. É o fim. Não estou escutando mais nada.
Aconteceu de novo: eu no colo dela, implorando pra me levar junto e não me deixar. As lágrimas cheias de glitter mancham meu rosto de palhaço. E ela diz pra vovó ficar comigo, pois seu vôo é daqui a pouco.
Ela foi a primeira mulher a me abandonar. Confesso que não foi a primeira nem a última vez que banquei o palhaço na vida... Bom carnaval.