sexta-feira, 15 de agosto de 2008



Comunicado


Em: 16 de agosto de 2008
A: Todos que me visitam

Assunto: Recesso de Agosto/Setembro

É isso aí. Estou em reforma. Antes que perguntem se vou voltar, adianto que sim (apesar de nunca ter visto uma reforma acabar...). Mas esta reforma tem um tempo indeterminado. Os motivos são muitos. O maior deles é a minha incapacidade de administrar o meu tempo. “Ah, mas todo mundo tem um probleminha com disciplina...”. Não. Eu não tenho. Eu não sei o que é isso, como vou definir como problema? Por isso, quando digo que não sei dividir meu tempo, é porque eu não sei, não sou inteligente pra isso não. Pois bem... Eis que depois de meses e meses engordando, dormindo e canalizando minha capacidade criativa nos textos aqui postados, resolveram aproveitar esta minha suposta qualidade (a de criar alguma coisa...Estaria no paraíso se fossem as capacidades de comer ou de dormir que estivessem sendo aproveitadas) para que eu pudesse ganhar por aí uns trocados. Enfim, um estágio na área de criação de uma agência de comunicação. Meu cérebro anda em curto, fico com sono danado nas aulas de Literatura Inglesa e Estilística, meu estômago tem reclamado um pouco e minha resistência também... Ok, ok... Sei que tem um ar de “explicação” (sabem que eu detesto explicar)... Mas prefiro dar satisfações a sumir e deixar meus poucos (são poucos porque são especiais) e melhores leitores (que são todos, sem nenhuma exceção). Contribuem também para o recesso o meu banco de idéias, que tem me deixado na mão (e me rendido uma vergonha que não conseguiria demonstrar em palavras, pois me faltam elas...). Desculpem por tudo: pela falta de criatividade, pelo abandono, pelo texto bobo, e por tudo o que eu postei ou venha postar que seja chato, pedante ou simplesmente ruim (nossa... parece que eu nunca mais vou voltar, hã?)
E para falta de criatividade, só um texto com cara de comunicado de empresa feito com a ajuda do assistente de carta do Word.






Obrigada gente!






A blogueira
(do quarto verde, porta à esquerda)

sábado, 9 de agosto de 2008

O crescimento do aprendizado


- Entender que o erro sempre é uma falha. O resto é romantismo.
- Serenidade vem em qualquer idade.
- Menos nem sempre é mais. Porém, o mais SEMPRE será mais.
- Julgamento de valores é válido quando se tem filhos, sim.
- Convivência com animais (em todos os sentidos).
- Saber que nem sempre ser distraído é sinônimo de estar além.
- Discos de vinil.
- Remédios caseiros.
- Cheiro de chuva.
- Conversar com crianças.
- Deixar os mais velhos falarem.
- Evitar conversas adultas demais.
- Conhecer pelo menos uma pessoa por inteiro.
- Mudar de opinião.
- Economizar, mas nunca deixar de usar a frieza.
- Aprender que nem tudo está nos livros.
- Perceber que ler é uma experiência pessoal. Compartilha-se apenas se quiser.
- Já escrever, não.

O aprendizado sempre pode crescer.

O aprendizado do crescimento


- Ficar longe de tomadas.
- Se dar conta de que os palhaços não têm a menor graça.
- Apreciar os benefícios da mentira.
- Descobrir que seus pais já experimentaram: maconha, porres homéricos, beijo gay.
- Pior: descobrir que eles não são mais virgens.
- Correr e perceber que o corpo não tem mais 10 anos de idade.
- Comer e perceber que o corpo não tem mais 10 anos de idade.
- Aborrecer-se com chuva ao invés de ter medo ou vontade de tomar banho nela.
- Dormir no escuro.
- Ver o banho como necessidade.
- Ter nojo de lama.
- Conhecer a nostalgia.
- Ser louco pra namorar e descobrir que também pode ser uma roubada.
- Contatos imediatos na faculdade.
- Ser apresentado ao conceito de “tudo é relativo”.
- Amizades verdadeiras.
- Aperfeiçoamento infinito de ser humano sem nunca chegar à perfeição.
- Decepcionar-se.
- Decepcionar.

Crescer pode ser puro aprendizado.

Aos pedaços, aos pouquinhos.

Via tudo muito lento. As letras dançavam no papel. Estava bem frio. Eu, em passos rápidos, inclinava o corpo pra frente, enrugando a testa bem próxima à carta, como que para prestar mais atenção ao seu conteúdo. Tentando ler em movimento, no escuro. Até me encontrava nas frases, só faltava o sentido delas. Ler mais uma vez no meio da confusão nem adiantava mais.
O corredor de gente não ajudava. Era mais fácil passar esbarrando do que tentar ajudar aquela que se equilibrava no salto apertado com um copo de café numa mão e uma caixa e um pedaço de papel na outra. Resolvi sentar num banco e tomar o café já morno. Naquele exato momento, pude saber a sensação da tal “solidão em meio a tanta gente” que dizem por aí. Finalmente o clichê se cumpria ridículo e literal.
O dia não tinha sido fácil pra mim. Trabalho acumulado, chefe sádico e horas extras. Assim, tive que sair muito tarde e peguei aquele tumulto na saída do prédio comercial. Almocei com a minha mãe e ouvi que estava ficando louca de deixar Juliano vir morar comigo. Juliano... meu novo quase-amor... “Isso não é sério!”, ela disse. Ela me conhece, as mães são assim. Mas ela não sabe muito. Ela não me conhecia como ELE me conhecia. Nem eu, pra falar a verdade.
Estávamos juntos há 8 meses, 3 semanas, 2 dias e 14 horas até a hora daquele café.
Ao chegar do almoço, na agência, Lila me avisou que Juliano tinha passado por lá. “Deixou aquilo ali...”. Havia uma caixa, uma margarida murcha [?] e um envelope em cima da mesa da copa.
Aquilo se tornou um hábito. Desde que nos conhecemos, Juliano ia na agência toda a semana e deixava uma lembrança. “Um pouquinho de mim, pra você sempre me ter por perto.” Assim ele dizia. Bonitinho. Às vezes, eu só lembrava de abrir a caixinha e ler as cartas depois do expediente. Eis um erro possível por meus múltipos defeitos. Um erro que não considero lá tão errado, pois pra mim, a indiferença deve ser justa com todos. Juliano não seria exclusivo... Pois bem, nesse dia, não abri a caixa e muito menos li a carta antes de sair do prédio, às sete da noite.
Ele era intenso. Em todos os sentidos. Chorava alto, tão alto que, às vezes, incomodava. Quebrou uma xícara que eu tinha, uma xícara de um design exclusivo, num acesso de raiva (o único que eu presenciei). Conseguia como ninguém atingir os meus pontos fracos. Sabia o timbre exato do ruído que me irritava ao esfregar os pés no chão molhado. Atacava minhas cócegas no ponto exato: entre as costelas e a bacia, apenas do lado direito. Conhecia todos os detalhes do meu corpo, cada pinta, cada marca; todas as formas de toque que pudessem fazer arrepiar os pelinhos da minha nuca. Desde os primeiros dias, ele já me sabia toda. Sabia diferenciar todos os meus sorrisos. Todas as minhas expressões indiferentes, sarcásticas e raivosas, ele sabia. Assim era Juliano.
Eu não o conhecia tanto. Ou não queria. Ter a sensação de penetrar e fazer parte dos sentidos alheios me angustiava. Todo encontro era perturbador. Me sentia cada vez mais dentro da vida de Juliano. Resolvi então que não fugiria mais uma vez. Era o quase-amor mais longo de todos que já tive. Devíamos morar juntos. Propus, ele aceitou e espalhou as coisas dele dentro do meu mundo.
Infelizmente, a sensação de me misturar a Juliano incomodava sempre. Não era eu. Então, decidi que não o conheceria mais. Juliano seria mais de um pra mim, de forma que nunca conseguisse conhecê-lo de verdade. Todas as vezes que nos encontrávamos, tentava enxergar outro olhar, ouvir outro tom de voz, outra conversa e sentir outro cheiro, outra sensação na pele. No fundo, sabia que não adiantava, ele sempre estava lá. No rosto, estampava um sorriso (lindo), em paradoxo com o olhar melancólico. Esta imagem era sempre a mesma em todos os Julianos que conheci.
E todas essas sensações foram interrompidas. No café morno como o meu sentimento, sorvi alguns goles amargos até pegar a caixa e ver o que havia dentro. Aos poucos, fui me vendo em pedacinhos guardados: um lenço com meu batom, um lacinho de alguma das minhas calcinhas, um grampo do meu cabelo, o desodorante que deixei junto com a echarpe na casa dele, um post-it verde-limão com as palavras apressadas: “hj saio + cedo. passo aí s der. bj”, um pacote de jujubas pela metade fechado com fita adesiva, meu cd do Cartola (sabia que não havia perdido!) e o único presente que lembro dar e ver ele esboçar o sorriso mais bonito do que todos os que ele tem; um bilhetinho com algumas palavras que escrevi quando esqueci que era nosso aniversário de namoro. Escrevi no barzinho mesmo, num lencinho, depois de umas taças de vinho:
“Feliz esse dia. E todos aqueles em que te encontro e não soltamos mais as mãos. Nem pra dormir. Que venham mais desses pra alegrar minha vidinha assim, sem-sal.”
Sentindo os olhares da multidão me aquecerem no frio que fazia naquele momento, enxuguei as três parcas lágrimas que consegui derramar. Peguei a margarida nas mãos e sorri divertida. Era a margarida mais feia que tinha visto em toda a minha vida. E olhei mais uma vez a carta. Dessa vez, consegui entender. Com a letra bem menos caprichada que das outras que já tinha lido, mas nada comparado ao conteúdo, conheci (ou reconheci?) mais um Juliano naquelas linhas:
“Esta margarida, eu colhi do meu canteiro. Aquele que você achava feio por causa da samambaia. Nesta caixa, está tudo o que seu que você ‘deixou’ ou se permitiu esquecer pelas minhas memórias. Infelizmente, não posso resgatar o que eu deixei com você, pois você me arrancou de mim mesmo. E será bem difícil eu me trazer inteiro de volta.
Parto para o Rio às 4 da tarde. Se quiser mesmo, de verdade, morar comigo pra se entregar de vez (não aos pedaços, aos pouquinhos), eu espero por você no aeroporto. Do contrário, já tirei minhas malas do apê. A chave está com o Mathias.”
Pula uma linha, data, rubrica, algum “p.s.” rabiscado. Acreditei por um momento que fosse um “eu te amo.”
Deixei o vento levar o pedaço de papel, tomei o resto do copo de café e fui atrás. Atrás do Mathias, que ficou com a chave do meu apartamento, claro... Estranhamente, senti que um peso das costas se ia...
Não tenho ainda certeza de que foi um erro ler a carta tarde demais (para Juliano). Só tenho certeza do erro que sou eu.
Boa viagem, quase-amor.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Pelos cotovelos

Eu não gosto de falar. Confesso ser melhor ouvinte que locutora. Tá, os que me conhecem sabem que também não sou uma anti-social, tampouco tímida ou caladona. Mas sabem (se não, sabem agora) que detesto perder tempo em discussões inúteis ou explicações extensas. A última é por questões mais profundas... Um dia escreverei sobre minha aversão a explicações demais. Mas deixo já claro que elas me fazem sentir estúpida.
Devo me defender dizendo que adoro conversar e ouvir o que os outros têm pra dizer. Meu problema é o falar por falar. O desperdício de saliva e palavras. Antes o silêncio do que agüentar um falastrão. É a boa e velha história: não tem nada pra dizer? Pois bem, fique calado... É uma atitude elegante e admirável.
Primeiro: quando se fala muito, pouco se ouve. Vale inclusive para o ouvinte. Eu, por exemplo, já perdi a conta de quantas vezes deixei de prestar atenção em diálogos-monólogos, onde o linguarudo só espera a vez pra falar. Prestar atenção no feedback do ouvinte? Nem pensar... o tagarela, quando se dispõe a tagarelar (geralmente sobre si mesmo e sem a menor intimidade com os integrantes da rodinha), tagarela mesmo! Tem sempre opinião sobre tudo (e todos...) e a maioria delas não acrescentam coisas novas às discussões.
Não sei. Deve ser pura teimosia e birra minhas, mas quando estou em uma roda em que só um fala, não presto mais atenção na conversa. É meio controverso para quem diz ser uma ouvinte razoável, sei bem disso. Acontece que as palavras que escuto parecem tomar uma nova forma quando proferidas por um falante tagarela! Tipo: “blabláblá...”, ou um disco furado... Ou um disco de “blábláblá” furado! Vai ver foi um mecanismo de defesa que desenvolvi contra os empolgados com discursos...
E, por tudo isso, o verbo “falar” tem ganhado cada vez mais sinônimos negativos no meu vocabulário... As situações em que o verbo tem sido posto em prática ultimamente não têm sido agradáveis... Geralmente têm ganhado significados como “ato ou efeito de imitar papagaio” ou simplesmente “encher lingüiça”.
Ok, fiquem calmos, de repente é uma fase. O mundo precisa da fala, isso é óbvio. Sim, eu acredito na força do diálogo, nas conversas agradáveis, onde se aprende um com o outro. ISSO é comunicação saudável. Agora... sair falando pelos cotovelos que nem um desesperado, apenas na esperança de que te notem... é meio falta de amor. Amor ao próximo e amor-próprio também, claro que sim!
Para encerrar, aqui vai a prova de que não tenho talento para poesia, segundo um ex-professor meu de Literatura. Crianças, lembrem-se (se a carapuça servir): falem o necessário e escutem o máximo que puderem (nem que seja pra aprender o quanto e o que não se deve falar). Afinal, ter dois ouvidos e apenas uma boca não pode ser à toa, já diz minha avó...

O poema salva muitas
Situações constrangedoras
O difícil é achar rimas
Que se tornem duradouras
Num versinho infantil
Eu te faço um pedido
Seja um pouco mais gentil
Não maltrate o meu ouvido
Já esperei tu falar!
(e não falas coisa pouca)
Pois agora é minha vez:
Égua, porra... Cala a boca!

domingo, 3 de agosto de 2008

da série "detalhes"- O CHATO DA SOLIDÃO


- Não some mesmo em multidões.
- Cama cheia, coração vazio.
- Barulho de trânsito.
- Monólogos.
- Dieta de segunda-feira: nunca mais beber, fumar, praticar exercícios, quem sabe um grande amor e consumo de carboidratos complexos (aquela bobagem de arroz e pão integral...)
- Cinzeiro cheio
- Whisky barato.
- Cantadas baratas.
- Auto-estima de borracha.
- Comida pronta.
- “O diário de Bridget Jones” (1 e 2) ou qualquer comédia romântica, com direito a pipoca, brigadeiro, guaraná e vodka.
- Adriana Calcanhoto e todas as suas músicas.
- Insistência alheia para você “baixar o nível de exigência”
- Teimosia sua de não aceitar conselhos.
- Debochar da própria condição.
- Na pior das hipóteses, aceitar a própria condição.
- Tomar café com Renato Machado
- Dormir com o Jô Soares.
- Não sair de casa sem as palavras de Ana Maria Braga.
- Terreno fértil da carência.
- Escrever em blogs.

Toda solidão é incorrigivelmente chata.

da série "detalhes"- A SOLIDÃO DO CHATO


- A certeza de que a insônia é um mal universal, por isso ,sempre telefonar pra conversar de madrugada.
- Maltratar os outros porque não faz sexo há meses.
- Item anterior quando se é chefe de uma repartição qualquer da vida.
- Silêncio sempre ensurdecedor.
- Adriana Calcanhoto e aquela música terrível do “Buchecha sem Claudinho”
- Sobriedade em barzinhos.
- Autoconfiança de papel.
- Auto-suficiência de araque.
- Mudança de hábitos antigos para manias insuportáveis.
- Dieta eterna: corrida matinal, morrer saudável, nada de apegos, nada de carboidratos ou sensibilidade.
- Debochar do parceiro alheio.
- Debochar do romantismo alheio.
- Debochar da vida social alheia.
- Debochar, enfim.
- Acreditar na máxima “antes só que mal acompanhado” por falta de máximas.
- Gatos de estimação.
- Morar só.
- Comida chinesa/italiana/ tailandesa.
- A certeza de que os amigos sempre estão vivendo em sua função.
- Ter amigos bastante “ocupados”.
- Não ser convidado pra nada com a desculpa de que “acho que você não iria curtir...”.
- Estar solteiro por opção.

Todo chato é um solitário incorrigível.

sábado, 2 de agosto de 2008

Não é da minha conta

Se você fez aquela prova bêbado. Se você não gosta dessa cidade. Se você não é daqui, por isso o sotaque. Não te perguntei onde você comprou aquela camisa que eu adoro ver você usando. Não é da minha conta a se você lê best-sellers. Se você também acha “Revolver” o melhor disco dos Beatles. Se você quis pedir o meu isqueiro emprestado. Se você é poeta. Se você pensou alguma vez em mim. Que estando com ela você é feliz e bem-resolvido.
Não faz parte da minha rotina saber que você é um bom rapaz. Ou um bom amante. Não perguntei nada sobre a sua namorada. Também nem senti a textura da sua barba malfeita. Não é da minha conta o cheiro do seu perfume. O seu local de trabalho, não me interessa. Saber como foi seu dia. Onde você pratica yoga. Se é perto de onde eu pratico. O porquê de você ser vegetariano para confrontar com os meus motivos. Não é para eu saber que você é um outro eu. Que me completa . Que faz parte do meu ser.
Se você compôs uma canção, não importa. Se não foi pra mim, menos ainda. Se você cortou o cabelo, não notei. Se você ficou uma graça e ela adorou, também não percebi. Não te telefonei, A noite com vinho, lua e violão não aconteceu. O dia seguinte foi normal e indolor.
Não é importante pra onde você foca o olhar. Nunca procuro os seus olhos. Se os achei, várias vezes foi pura coincidência.
Seu nome é mais um entre tantas inspirações. Aquele poema foi mais um de tantos para outros. Não é para eu saber se você leu. Não é da minha conta o que você fez na sua vida. Se você foi embora, não é de meu interesse.
E, sobretudo, não é da minha conta o que você sente por mim. O que você fala de mim. O que você pensa sobre mim.
Guarde tudo pra você.

*texto insone e não-irônico.