segunda-feira, 29 de setembro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

da série "detalhes" - A DOUÇURA DO IRRITANTE



- Acordar com canto de pássaros
- Sussurro da pessoa amada perguntando se você está dormindo quando, na verdade, está pegando no sono
- Vozes de : mãe irritada, John Lennon, Marcelo Camelo, Bob Dylan e Vanessa da Mata
- Receber um tapinha nas costas depois de um abraço
- O queijo derretido da pizza
- Soluço de neném
- Cócegas
- Estourar plástico-bolha
- Não conseguir jogar fora papéis acumulados pelo tempo (de extratos bancários a bilhetes fofinhos)
- Barulho de chuva na calha
- Gato miando
- Aquele barulho de gelo triturando na boca
- Talheres batendo em almoço de domingo
- Estômago roncando
- Sua avó mostrando fotos antigas suas para visita
- Minha avó repetindo as mesmas histórias
- Dormir de luz acesa
- Justificar qualquer falha com flores nas mãos
- Encontrar um amigo que só fala de amor e solidão em tardes de domingo

Certas coisas irritantes têm um fundo de doçura.

da série "detalhes" - O IRRITANTE DA DOÇURA


- Enjôo
- Balas que grudam nos dentes
- Abraço forçado pelas convenções, de meio corpo
- Ouvinte compreensivo demais
- Sandy
- Casamentos
- Cachorro carente
- Algodão-doce
- Cafunés
- Aqueles dois beijinhos que te dão ao te cumprimentar
- Sentimento de pena
- O olhar de Paul McCartney
- Vestidos floridos
- Crianças artistas
- Cheiro de baunilha
- Voz macia em palavras rudes
- Choro baixo
- Sorrisos demais (verdades de menos)
- Aeromoças

Certas doçuras são no fundo irritantes.

sábado, 6 de setembro de 2008

A pureza dentro das palavras

Não é que eu tenha voltado. Muito menos que a vida ande menos agitada que o costume novo. Continuo trabalhando, estudando e sem o menor tempo pra pensar no quarto verde. Nem no próprio quarto verde, o que dá nome a esse espaço, eu tenho dormido. Mas posto aqui pela velha e insana necessidade de escrever, amados...
Tudo o que tem acontecido nestes últimos dias contribuem para este post. Desde experiências alheias até as minhas próprias, também alheias.
Não lembro se cheguei a comentar aqui que faço faculdade de Letras. Se não, está aqui informado. Guardem esta informação. Ela é fundamental para que vocês entendam a minha relação com as palavras.
Fato maior é que ando meio preocupada com as pessoas no mundo. As do meu mundo, claro... Não sei, mas parece que elas não andam mais atentando para o que falam, o que prometem, o que precisam cumprir, honrar...
É muito difícil para mim, um alguém que ama lidar com palavras na vida e na carreira, ouvi-las e não relacioná-las ao significado na minha vida e ao que elas vão me proporcionar como conseqüência.
Certo, as palavras são importantes. Mas para mim, chegam a ser sagradas. EU tenho um pouco de obsessão com comunicação e expressividade. Por isso, tomo o maior cuidado quando vou usá-las.
Palavras são muito inofensivas em sua natureza. Permitem que você abuse delas; que brinque, destrua, desmembre e distorça-as.
É aí que mora o perigo. O que elas são capazes de fazer quando você se apropria delas. Ganham um poder espetacular, pois se juntam à retórica e ao estilo. Ao seu tom de voz. À sua letra. Ao seu conhecimento ou não sobre elas. Aí, elas pertencem a você. Esta é a relação mais apaixonada que existe: a das palavras com nós mesmos. Elas possuem uma ligação com a gente que pode nos enlouquecer...
Daí, as conseqüências são infinitas. Você pode se tornar tudo. Um gigolô das palavras, por exemplo, como o próprio Luis Fernando Veríssimo se define. Apenas as usa de acordo com sua vontade e se aproveita impiedosamente delas. Neste caso, você é um escritor muito do safado...
Outra alternativa é se tornar um bobo que tem medo delas. Não consegue escrevê-las, pronunciá-las, sussurrá-las ou lê-las. Muito menos cumpri-las, honrá-las, reformulá-las, desdizê-las ou mesmo estreitar as relações com elas... É com esse tipo de medroso que tenho me deparado ultimamente.
Quero crer, de todo o meu coração oco e sangrento, que sejam medrosos passageiros (não na minha vida, mas de um medo passageiro em si). Que sejam curados. E que nada deste medo tenha a ver com o caráter, mas, sim, com pura inabilidade mesmo.
Estes tipos de medrosos causam as maiores decepções na alma de pessoas como eu: os escravos das palavras. Aqueles que necessitam ouvi-las, senti-las, percebê-las nos olhos de quem nos fala; que necessitam vê-las se cumprindo.
As palavras são puras. Nós somos os corruptores.
Texto triste e chateado.