sábado, 25 de agosto de 2012

O julho de Juliano

A chuva caía sem dó pela cidade. Não tinha pena dos bueiros entupidos, dos varais de donos desavisados, dos telhados quebrados, das casas sem baldes ou dos passantes atrasados. E, sobretudo, dos sapatos novos de Juliano. - Que bela porcaria. - mal podia acreditar. Era por isso que detestava a chuva. Molhava seus sapatos, pés, calças, panturrilhas, planos... Encharcava de lama sua pasta de documentos, sua carteira vazia e seus sonhos ensolarados. Não gostava de guarda-chuva. O nome do objeto lhe causava asco, revelando o pensamento birrento e pueril. - Pra que diabos eu quero guardar a chuva? E retomava os passos (in)conformados. Tinha raiva das nuvens que embaçavam o raciocínio, fazendo-o apenas lamentar e maldizer os pingos (cada vez menos espaçados) que caíam do céu. - Vou me atrasar para a entrevista. E o que é pior, vou chegar todo molhado. E o ex-futuro-chefe ainda perguntaria: “Você não tem um guarda-chuva?”. Apressando o passo abastecido de ira e orquestrado pelos trovões, Juliano resolveu procurar abrigo até passar o temporal. - Maldita chuva! Que dia péssimo! Pensou na conta de água. Uma ironia. Não tinha dinheiro pra pagar por algo que agora lhe atrasava a vida. Pensou no seu apartamento. Como pagar o aluguel se não conseguir o tal emprego? E, por fim, pensou nos sapatos novos. Era o que matava; puro couro italiano estragado pelas poças d’água. Mas antes que pensasse em algo mais, Juliano ouve o celular tocar. Era a secretária da empresa que o contrataria. “Não haverá mais entrevistas hoje. O carro do nosso gerente ficou preso na estrada por causa do temporal. Entraremos em contato.” -Santa chuva! Juliano caminhava plácido por entre as gotas alegres da garoa marota. Como era revigorante um banho de chuva!

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