sábado, 25 de agosto de 2012

O maio de Mariana

Mariana vai se casar com Silas em poucas horas e tudo será perfeito. Comprou o vestido em um brechó em Paris e mandou a costureira ajustar. Encomendou o melhor buffet da cidade , com chef premiado.Os sapatos serão assinados por um estilista renomado.Cabelo e maquiagem escolhidos a dedo, com semanas de teste. Também testou a cerimonialista, os padrinhos, o pajem e as damas de honra (trocadas três vezes!). Tudo saiu do jeito que planejou: floristas, orquestra, padre italiano, igreja tradicional e disputada, comida deliciosa, bebida para descontrair. Uma pista de dança para os descontraídos. A música do casal, ela mesma escolheu. Viu num filme e achou que combinaria com o estilo de festa que determinou. Mariana ia se casar com Silas.O noivo de seus sonhos.Funcionário federal, bonito, inteligente e de ótima família. Os sogros a adoravam; diziam que ela havia caído do céu. Mariana era um anjo, de fato. E ela sabia que era. O álbum de fotos seria quase uma obra de arte. Pediu ao fotógrafo que captasse o amor verdadeiro nos olhos do casal e que “por favor, fotografe meu lado fotogênico, o direito”. Mariana esboçava um sorriso angelical diante do espelho. “Perfeito”. Tinha certeza que o vestido lhe cairia bem. Era certo que o véu a deixaria esplêndida. Não, não haveria olhos para outra mulher naquele dia. Era ela. Apenas Mariana. Não tinha notícias de Silas desde a manhã anterior. Achou de bom tom ver o olhar de deslumbramento do noivo apenas no altar. Sabia que o futuro marido teve uma boa despedida de solteiro, do jeito que os preparativos e roteiros de casamentos pediam. E que a amava profundamente. E que era fiel e correto. Calado, de sentimentalidade medida, do jeito que ela sempre quis. “Silas foi a escolha certa”, dizia para o reflexo no espelho, retocando a maquiagem. Chegava a hora. O fim de tarde era bonito; o sol diluía-se nos cabelos cada vez mais dourados da noiva. Admirando ainda o belo trabalho da costureira, mal ouviu os passos apressados por trás da porta. - Mariana?! – era uma voz masculina. - Querido? É você? - ... Não... É o Jorge. Você pode abrir? - Pode entrar. Está aberta. Jorge entrou. Seu rosto estava sem cor. Mariana não percebeu as lágrimas que cobriam o rosto do padrinho. O véu estava caindo por conta do vento que subitamente invadia o quarto. Era necessário ajustar. - Mariana... – Jorge embargou a voz. - Eu sei... O vestido ficou mesmo divino! – dizia ainda para o reflexo do espelho. - Mariana, você precisa se acalmar... A moça virou-se plácida, para dizer que não estava nervosa. Ao se deparar com o rosto desfigurado pela tristeza de seu amigo, não conteve o pânico. - O que aconteceu? - O Silas, minha querida... – e Jorge tentou abraçá-la, num choro silencioso e sentido. A noiva se desvencilhou dos braços do rapaz com fúria, saindo pela porta aos berros. - Ele sumiu, não foi? Cadê ele? Onde está? Os que se reuniam na sala tentaram segurar a mulher de véu rasgado e vestido aberto. -Alguém pode me dizer onde está meu noivo????? E, mal podendo se convencer de que o seu dia havia acabado, sentou-se no sofá para saber do ocorrido. Na madrugada anterior, houve um acidente. A estrada estava em obras e os motoristas deveriam desviar antes do buraco feito para os reparos. Um motorista desavisado não desviou. O carro despencou em um precipício em alta velocidade numa tentativa falha de desviar o caminho... Não houve sobreviventes. Silas não dirigia. Estava no banco do carona daquele carro, que era dirigido por uma mulher. Mariana ia se casar no dia 15 de maio. Mas guardou o vestido, o véu, os sapatos, as lágrimas, o rancor e, bem no fundo da alma, a convicção de que o dia perfeito de seu mês favorito ainda chegaria.

Um comentário:

Lapsus Calame disse...

E Maia esteve entre Mariana e maio...